Com as dicas de Letícia Orlandi, ensine o seu cão a fazer xixi sempre no lugar certo
O seu cão é daqueles muito bem educados, que fazem o xixi no lugar certo, sempre nos mesmos horários e que nunca se desviam dessa rotina? Ou é dos que mantêm a rotina na maior parte do tempo, mas que, de vez em quando, ainda se aliviam onde não devem? Ou, ainda, é o do tipo terrível, que faz xixi onde bem entende, na hora que bem entende?
Se o seu amigão está no primeiro time, parabéns! Você soube educá-lo direitinho e ele não apresenta qualquer problema comportamental ou de saúde. Mas, se não for assim, não desanime. De acordo com a especialista em comportamento animal Letícia Orlandi, é sempre possível ensinar um cão a fazer as necessidades no local correto ou descobrir porque às vezes ele erra a mão.
Confira!
Marcação de território
Além de atender à uma função fisiológica, o ato que leva o cachorro a fazer xixi por onde passa funciona como um sinalizador, que possibilita que ele marque a presença em um determinado território. Mais do que isso, de acordo com a consultora Letícia Orlandi, a urina também é uma forma de comunicação entre os cães. “Ao cheirar a marcação, os cães recebem sinais químicos que indicam algumas características do animal que passou por ali antes – se é macho ou fêmea, se é filhote ou adulto. É como se fosse uma ‘rede social’ dos cachorros”, explica.
Ao mesmo tempo, os cães acabam identificando o cheiro da urina e de fezes em determinados locais, o que pode ser útil para treiná-los a fazer xixi e cocô sempre no mesmo lugar. “Escolhendo o local mais apropriado, com o treinamento correto, ele passará a associá-lo como sendo o seu banheirinho, e passará a utilizá-lo sempre que sentir necessidade”, diz Letícia.
Entretanto, a consultora ressalta que esse local deve ser higienizado adequadamente, com frequência.
Treinamento precoce
Naturalmente, o melhor é começar o treinamento do cachorro quando ele ainda é filhote, o que, segundo Letícia, requer paciência e compreensão. “Antes de tudo, é preciso entender que é normal um filhote não ter pleno controle de sua bexiga e que, inicialmente, pode ser difícil para ele perceber que deve parar tudo que está fazendo e ir até a área de serviço ou ao banheiro para se aliviar. Ficar livre do incômodo de segurar o xixi é muito prazeroso para o cão. Portanto, no início, haverá muitos acidentes”, ela avisa.
Contudo, a consultora destaca que o animal nunca fará xixi fora do lugar por mal ou por birra, como alguns tutores acreditam. Com isso em mente, Letícia orienta a adotar outras medidas que ajudarão a estabelecer uma rotina para que o filhote comece a compreender o uso do banheirinho. “Definir horários de alimentação e ensinar comandos básicos — como ‘senta’, deita e fica’ — ajuda neste sentido. O apoio de um adestrador de metodologia positiva também é recomendável para quem deseja uma relação saudável com o novo membro da família”, ela indica.
Lugar certo
Escolher o local adequado para servir como banheiro para o pet também é fundamental para o desenvolvimento da rotina. De acordo com Letícia, é necessário que o lugar seja tranquilo, sempre seco e limpo, longe da comida e do ambiente onde o cão dorme. Também deve estar, fora da passagem das pessoas e de barulhos que possam assustar o animal — como o som da máquina de lavar, por exemplo.
Segundo Letícia, o ideal é que espaço escolhido permita que uma grande área do piso seja forrada com jornal ou tapetinho. “Assim, ficará mais fácil para o cãozinho acertar. Com o tempo, essa área poderá diminuir, até ficar do tamanho de um único tapete, por exemplo”
Caso o tutor disponha de tempo para acompanhar o treinamento, a consultora recomenda que ele leve o cão ao local do banheiro tantas vezes no dia quantas for identificada a vontade de fazer o xixi. “Por outro lado, se você não tiver essa disponibilidade, restrinja a área na qual o animal ficará quando estiver sozinho — o que pode ser feito com cercadinhos e portões. Mas, atenção: não é para prender o animal em uma área pequena da casa, causando estresse e ansiedade. A ideia é restringir o acesso a alguns cômodos, enquanto estiver em treinamento”, ela alerta.
Segundo Letícia, é importante que, durante esse período e ao longo da vida do cachorro, o tutor brinque com o cão e o leve para passear, além de oferecer atividades — brinquedos de roer, caça-petiscos, entre outros — que possam distraí-lo, sempre que ele estiver sozinho. A consultora ressalta ainda que, desde filhote, o cão deve se habituar a fazer as necessidades tanto em casa, no local, apropriado, quanto na rua. “Nos dias em que estiver chovendo e você não puder levá-lo para passear, é importante que ele não fique apertado”, destaca.
Recompensa
Letícia considera que, para obter os resultados desejados, é necessário que os tutores sejam comprometidos e que tenham consistência no treinamento, criando oportunidades de aprendizado para os cães, o que pode ser reforçado por meio de recompensas. “Sempre que ele acertar é importante que ganhe uma recompensa, que pode ser um petisco, um carinho, festinha e elogios. Por outro lado, se errar, não levará bronca ou punição, o que só vai piorar a situação e prejudicar o aprendizado”, considera.
Nesse ponto, Letícia chama atenção para um aspecto fundamental no treinamento de animais. “O erro do treino é sempre humano, não do animal”, ela afirma.
Facilitando os acertos
Para Letícia, observar alguns padrões que sinalizam que o xixi está por vir é uma boa forma de estimular os acertos do cão em treinamento. “Geralmente, eles querem ir ao banheiro em três ocasiões: depois de um cochilo ou de dormir; cerca de 15 minutos depois de comer ou beber água — o que varia um pouco — e quando demonstram estar inquietos, girando e agachando. Sempre que possível, nesses momentos, leve o cachorrinho ao local escolhido e espere que ele faça. Em seguida, dê a recompensa”, orienta
Manter vários tapetinhos à disposição do filhote pelo período de sete a dez dias — sempre trocando os sujos — é outra forma recomendada por Letícia para estimular os acertos. “Depois dessa primeira fase, comece a retirar os tapetes nos quais ele não fez xixi, deixando apenas os que ele fez. Se, durante esse período, ele fizer em algum espaço vazio, cubra o local com tapetinho. Faça isso até que sobre apenas um ou dois tapetes no local que você escolheu. Durante esse período, sempre que ele fizer no lugar certo e você estiver observando, não esqueça da recompensa”, reforça.
Segundo a consultora, assim que o filhote estiver acertando o local por vários dias seguidos — também de sete a dez dias —, já é possível liberar outros cômodos da casa para ele. “Mas, se ele fizer fora do local, não dê bronca. Espere ele terminar de fazer, para não causar um trauma ao animal justamente no momento em que ele está fazendo suas necessidades, limpe o local do acidente e volte a restringir o filhote à área da casa mais perto do banheirinho”, ela indica.
Letícia observa que a mesma ideia se aplica quando o banheirinho for no quintal de uma casa, que deve ser protegido da chuva e do sereno. Entretanto, havendo um quintal, ela diz que levar o filhote de hora em hora ao local escolhido e recompensá-lo sempre que ele fizer as necessidades também é uma estratégia que estimula bastante os acertos.
Lembrando que é preciso ter paciência sempre, a consultora garante que, mesmo que o cãozinho erre muitas vezes no início, na grande maioria das vezes, essas técnicas funcionam. “Geralmente, em um prazo de 30 dias, o filhote já estará fazendo xixi e cocô no lugar certo, sem traumas e brigas. Porém, não pense que só porque seu cãozinho aprendeu a fazer as necessidades em casa ele não precisa de passeio. O passeio é fundamental para uma vida saudável e deve fazer parte da rotina do cão. Quando ele fizer as necessidades na rua, deve ser recompensado também, especialmente quando filhote”, diz.
Encontrando os erros
Segundo Letícia, mesmo os cães adultos podem ser treinados e, a partir disso, aprenderem novos comandos e a rotinas para se aliviar corretamente. Contudo, ela ressalta que se o animal — filhote ou adulto — não aprende ou se aprendeu e começa a fazer as necessidades fora do local escolhido, é preciso buscar onde está a falha. “Se depois de seguir o processo de treinamento, o cãozinho continuar fazendo em lugares inadequados, vale refletir se você está punindo seu cachorro, mesmo sem perceber. Punição não é só agressão e violência. A bronca, a mudança de tom de voz, os gritos, o famoso ‘esfregar o focinho no xixi’ também são punições.O cachorro pode entender que está levando bronca porque fez na sua frente e passar a fazer escondido, só que no local errado, entende? Ele não está lhe desafiando. Ele está com medo. Então, em vez de focar no que ele fez de errado, foque em todas as vezes que ele acertou”, recomenda a consultora.
Contudo, os erros também podem ser vistos como sinais de que o cachorro está sofrendo algum incômodo e como mensagens que ele esteja tentando enviar. Segundo Letícia, algumas das possibilidades que levam o cão a fazer as necessidades fora do lugar são:
- ele está ficando muitas horas sozinho, sem atividade adequadas para praticar durante esse tempo;
- está com algum problema de saúde — cistite, por exemplo;
- está incomodado com algum odor novo na casa ou
- houve alguma alteração na rotina — que pode ser a chegada de um bebê ou de outro animal, por exemplo.
De acordo com a consultora, a causa dos erros deve ser investigada e corrigida de acordo com a origem do problema. Se for de natureza física, a solução precisa ser dada por um veterinário, que deve ser consultado sempre que houver a mínima suspeita. “Por outro lado, se for uma ansiedade causada por passar muitas horas sozinho, podemos oferecer brinquedos de roer e outros que permitam ao animal caçar petiscos e ração, desde que se tenha certeza de que são seguros. Outra medida é contratar um profissional de pet sitting para ir até sua casa, dar atenção, passear e brincar com o seu cachorro”, indica Letícia.
Produtos químicos
Por não saber como agir ou por comodismo mesmo, é muito comum os tutores recorrerem aos educadores sanitários químicos como medida para evitar que o cãozinho faça xixi onde não deve. Entretanto, Letícia Orlandi diz que, sozinhos, esses produtos não funcionam “Caso o cãozinho esteja tendo muita dificuldade para acertar o local, o produto pode ser um empurrãozinho. Mas, pela minha experiência, as pessoas acabam comprando como uma solução mágica e ficam frustradas”, ela diz.
Entretanto, a consultora destaca que os produtos podem ser substituídos com grande vantagem por uma atitude positiva diante do problema. “Vamos supor, por exemplo, que o cão esteja fazendo o xixi sempre no tapete da sala, e não no tapetinho higiênico. Eu recomendo que a função do tapete da sala seja alterada. Ou seja, depois de higienizar bem o local, coloque uma vasilha de ração ali ou estabeleça aquele tapete como local para treinos do tipo ‘senta, deita, fica, role’. A tendência é que o cão evite fazer xixi em um local que, para ele, já tem outra função”, observa.
Porém, se o tutor realmente deseja investir em um produto, Letícia recomenda que sejam adquiridos os limpadores enzimáticos. “Eles são muito mais eficientes que os desinfetantes comuns para eliminar o cheiro de urina e de fezes. Assim, por sentir o cheiro da marcação anterior, evita-se que o animal continue fazendo sempre no mesmo lugar, ”, conclui.
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