Por que valorizamos tanto a tradição de presentear no Natal?
Faltam poucos dias para o Dia Mundial de Dar e Receber Presentes, que também é conhecido como Natal. No período que antecede a data que é a alegria dos fabricantes e comerciantes de produtos dos mais diversificados, boa parte da população mundial — claro, daquela que tem possibilidade de pensar nisso — está ocupada em comprar os mimos que serão distribuídos entre parentes e amigos nos dias 24 e 25 de dezembro.
Mas, qual será o motivo ficarmos tão ansiosos para fazer as compras? Por que, afinal, nos sentimos tão empenhados em presentear as pessoas no Natal?
Utilidade ritualística
Se partirmos para uma análise fria, que se baseie somente na lógica, a ideia de presentear não é tão boa assim. Afinal, temos que pagar por coisas que outras pessoas vão usar — ou não — e, talvez, fosse mais apropriado que todos gastássemos dinheiro e tempo conforme nossas próprias necessidades e desejos.
Porém, de acordo com o professor e cientista cognitivo Dimitris Xygalatas, que leciona Antropologia e Ciências Psicológicas na Universidade de Connecticut, nos Estados Unidos, pesquisas sugerem que há um significado muito especial na tradição de presentear que vai além do interesse da posse. Em artigo publicado no The Conversation, Xygalatas revela que gastar dinheiro com os outros é melhor do que gastar dinheiro conosco. “Na verdade, os neurocientistas descobriram que fazer uma doação aciona mais os circuitos de recompensa do cérebro do que receber um presente. Além disso, a alegria de dar um presente dura mais do que o prazer passageiro de aceitá-lo”, explica o professor.
O cientista observa que, ao trocar presentes, manifestamos sentimentos de gratidão que trazem satisfação. “Além disso, como famílias e amigos conhecem os gostos, preferências e necessidades uns dos outros, é provável que a maioria das pessoas acabe recebendo o que queria, com a vantagem adicional de aproximar todos”, considera.
Conexões
Mas, não é só no Natal que essa troca de agradecimentos acontece. Aniversário, casamentos, chás de panela ou de bebê e outras celebrações também criam oportunidades para que os convidados levem um presente para o anfitrião. Daí, surge a expectativa de que estes retribuam com algum presente no futuro.
De acordo com Xygalatas, essa troca cumpre várias funções. “Para os anfitriões, fornece suporte material, muitas vezes durante períodos de transição desafiadores, como começar uma nova família. E para os convidados é como investir dinheiro em um fundo, a ser usado quando chegar a hora de se tornarem anfitriões. Além disso, os presentes ajudam a elevar o status simbólico dos doadores junto ao recebedor, que está em posição de organizar uma cerimônia pródiga, parcial ou totalmente financiada pelos convidados. Mais importante ainda, essas trocas ajudam a construir uma rede de laços rituais entre as famílias”, diz.
Xygalatas lembra que esse tipo de prática ocorre até mesmo na política, quando diplomatas e líderes que visitam um país estrangeiro trocam presentes com os anfitriões. “As autoridades francesas costumam distribuir garrafas de vinho , enquanto os líderes italianos são conhecidos por oferecerem gravatas da moda. Outros presentes diplomáticos podem ser mais incomuns. Quando o presidente Richard Nixon visitou a China em 1972, o presidente Mao Zedong enviou dois pandas gigantes, chamados Ling-Ling e Hsing-Hsing, ao Zoológico Nacional em Washington, e governo dos Estados Unidos retribuiu enviando dois bois para a China”, exemplifica.
Portanto, o professor destaca que, de conchas trocadas entre moradores de ilhas no Pacífico a brinquedos e roupas colocados sob as árvores de Natal, a partilha sempre esteve no centro de muitas tradições rituais. “Isso é fundamentalmente diferente de outras formas de troca material, como comércio ou escambo. Isso se refere a uma regra mais geral de ações cerimoniais: eles não são o que parecem ser. Ao contrário dos comportamentos comuns, as ações rituais não são utilitárias. É essa mesma falta de utilidade óbvia que os torna especiais”, conclui.
Uma dica
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