Sabores

A experiência do Nenel com a baixa gastronomia nos bares da região

Ninguém duvida de que BH é um lugar muito privilegiado quando o assunto é gastronomia e se destaca ainda mais se a comida servida nos botequins da cidade entrarem na conversa. Não por acaso, em 2019, a capital foi reconhecida pela Unesco como uma Cidade Criativa, sendo o universo gastronômico o impulsionador do título. Também não é coincidência o fato de aqui, em 1999, ter surgido o Comida de Buteco, o festival que hoje acontece em mais de 20 cidades do Brasil.

Em um cenário tão favorável, é natural existir entre os belo-horizontinos vários especialistas nesse delicioso universo gustativo e cultural que a culinária dos bares proporciona. Entretanto, talvez nenhum deles seja tão apaixonado pela gastronomia de bote- co quanto é o morador do Cruzeiro Daniel Neto, o Nenel, jornalista responsável pelo perfil Baixa Gastronomia, no Instagram, que também é um dos apresentadores do programa Buteco 98, na rádio 98 FM.

De bar em bar

Desde 2009, quando lançou o blog Baixa Gastronomia, Nenel se dedica a percorrer estabelecimentos tradicionais de Belo Horizonte, mas também não abre mão das novidades, onde experimenta o que há de mais representativo na culinária botequeira. Dos pratos famosos — como o caldo de mocotó do Nonô e o Kaol do Café Palhares, no Centro — até os emblemáticos tira-gostos de estufa e lanches de mercearias de vários pontos de BH, nada escapa da curiosidade do jornalista, que procura por lugares onde é possível aliar a boa comida ao custo acessível.
Nenel conta que as descobertas que faz surgem de muita pesquisa e também de indicações que recebe.

Porém, o interesse pela baixa gastronomia veio da convivência profissional com os botecos — ele também é músico na noite — e de influências familiares. “Meu pai e meus tios são jornalistas e escritores e sempre fo- ram meio boêmios. Minha mãe cozinha muito bem, minha avó cozinhava muito bem. Então, eu acho que foi isso que despertou a minha atenção”, diz.

Pelo bairro

Fazendo questão de se identificar como um jornalista de gastronomia, e não como um crítico da área, Nenel diz que a cozinha do boteco oferece contribuições que vão além do paladar e acaba sendo um meio que leva a outras apreciações importantes. “A comida é um fio condutor pra gente falar de pessoas, pra gente contar histórias, trocar referências, trocar experiências”, avalia.

Pois é esse o tipo de experiência que ele vem desenvolvendo por aqui desde 2020, quando se mudou para a vizinhança com a esposa Déborah Trindade. “Estamos gostando muito da região, onde a gente tem o Mercado do Cruzeiro, com o pernil do Júnior, que é maravilhoso, e o PF da varanda. Eu gosto muito do Rola Papo e do Bar do Piru (é assim mesmo, com i, sendo ambos na Montes Claros) e do Rondelli (na Jornalista Jair Silva), onde a gente encontra uma marmita do dia a dia e o frango assado para o final de semana. Gosto muito da Ieda (na Itapema), onde você vai tomar uma cerveja gelada, come um pastel, e aproveita pra comprar uma vassoura e um sabão em pó, o que é sensacional”, explica, bem-humorado.

Diante da sofisticação dos estabelecimentos tradicionais que passam por transformações profundas em suas características, Nenel revela a preferência pelos botecos que conservam a originalidade, como aqueles da região citados por ele . “Eu sou totalmente contra a ‘gourmetização’ dos bares. Eu acho que tem espaço para todo mundo, mas o botequim é onde a gente vai de chinelo ou vai de terno e ninguém olha com preconceito.

Os lugares tradicionais são uma atração. Os clássicos precisam ser eternos, apesar de que, eu sei, eles não serão”, conclui.
Então, aproveitando a deixa do Nenel, fica a dica para quem gosta da descontração, da cerveja gelada e da boa comida que só os botecos oferecem: a hora de aproveitar os clássicos é agora e na nossa região temos vários deles.

 

Foto de capa: Déborah Trindade