Compostagem: solução para o lixo orgânico doméstico (com vídeos)
Todos os dias, a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) de Belo Horizonte mobiliza 400 caminhões coletores para transportar as 2,8 mil toneladas de resíduos que são recolhidos na capital e descartadas no aterro sanitário. Desse total, a maior parte, que é de 1,9 mil toneladas, é recolhida nos domicílios da cidade. De acordo com a SLU, 49% de todo o resíduo domiciliar é composta por matéria orgânica, incluindo a parcela que pode servir à compostagem doméstica.
Ou seja, diariamente, a população belo-horizontina gera 931 toneladas de lixo orgânico. Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), apenas 1% desse material gerado nos domicílios brasileiros é reciclado. Portanto, considerando esta proporção, apenas de 9,3 mil quilos dos orgânicos produzidos nos domicílios de Belo Horizonte são reaproveitados.
Tendo em vista que a geração de resíduos está entre os principais impactos negativos que as cidades impõem ao meio ambiente, é importante considerar qualquer atitude que possa reduzir o volume do que é enviado para o aterro e a compostagem se apresenta como uma das mais eficientes.
Compostagem
Além da eliminação dos desperdícios e da separação de materiais para a reciclagem, a compostagem doméstica figura como uma prática extremamente útil, que causa a redução imediata da geração de resíduos domiciliares. Por meio de uma ação simples, grande parte do que normalmente é descartado nos domicílios se transforma em um adubo orgânico rico em nutrientes para as plantas e completamente inofensivo para o meio ambiente.
De acordo com o engenheiro agrônomo Miguel Lancho, no ambiente natural, cada resíduo orgânico é reaproveitado pelos próprios ecossistemas onde são gerados. De modo semelhante, com a compostagem doméstica é possível reproduzir em casa o que normalmente acontece na natureza. “A compostagem é um processo natural de transformação da matéria orgânica em compostos mais simples, que podem ser utilizados como nutrientes pelas plantas”, explica Lancho.
Não é “guardar lixo”
Uma das grandes motivos de haver resistência à compostagem está no conceito equivocado de que a técnica consiste em “guardar lixo” que deveria ser descartado. Na verdade, trata-se de uma forma inteligente e civilizada de assumir a responsabilidade sobre os resíduos e de gerir com eficiência um recurso natural que pode ser reaproveitado.
Entretanto, segundo Lancho, para que a eficiência do processo seja atingida de forma satisfatória, é preciso fornecer condições adequadas a ele. Para grandes volumes de resíduos, de fato, essa tarefa é trabalhosa e exige um investimento considerável.
Contudo, para a quantidade de orgânicos reaproveitáveis que produzimos em casa a solução é bastante simples e barata.
Composteira feita em casa ou pronta
Uma das opções mais interessantes de composteira doméstica utiliza materiais recicláveis e pode ser feita com muita facilidade, em casa mesmo. Utilizando apenas três baldes — desses de tinta ou de óleo de cozinha, desde que bem limpos e sem vestígios dos produtos que armazenavam —, a solução foi projetada por técnicos da Embrapa, que, inclusive, elaboraram uma cartilha com um passo-a-passo muito fácil de seguir (clique aqui para acessar).
O vídeo acima mostra uma versão simplificada da composteira original da Embrapa, que inclui ainda uma torneira para o escoamento do chorume e um respiradouro com filtro na parte superior.
Porém, há também a disponibilidade de adquirir composteiras prontas, que são comercializadas pela internet. Como elas não ocupam muito espaço, podem ser utilizadas até mesmo em apartamentos.
Sem mau cheiro ou insetos
Entre as maiores preocupações de quem se interessa pela compostagem doméstica estão as possibilidades de geração de cheiro ruim e de atração de insetos que os resíduos em decomposição podem acarretar. Porém, segundo Miguel Lancho, se o processo for realizado corretamente, esses inconvenientes não devem causar transtornos.
O engenheiro lembra que, na natureza, onde há grande quantidade de matéria orgânica em decomposição, o cheiro não incomoda quando o processo ocorre na presença de ar. “Só é liberado dióxido de carbono, vapor de água e gases inodoros”, explica o agrônomo.
Porém, quando a decomposição ocorre sem a presença de ar a situação se inverte. “Nesse caso acontece a putrefação da matéria, liberando metano, sulfato e outros gases com odores desagradáveis”, adverte Lancho.
Com relação à atração de insetos ou de outros animais, a possibilidade fica afastada pelo uso de composteiras adequadas, uma vez que esse tipo de equipamento é projetado de maneira a não permitir o vazamento de líquidos ou de gases. Porém, para fazer uma boa compostagem é importante conhecer o processo previamente e produzir ou adquirir um dispositivo adequado para o ambiente onde ele será desenvolvido.
Minhocário
As minhocas são grandes auxiliares do processo de decomposição dos resíduos orgânicos. De fato, elas “fabricam” terra ao digerirem os resíduos que são colocados na composteira. Como aceleram o processo e o tornam muito
mais eficiente, a possibilidade de geração de mau cheiro e de atrair insetos se torna ainda menor.
As minhocas para a compostagem podem ser adquiridas juntamente com composteiras especialmente projetadas para a criação.
Resultados
Além da considerável redução no volume de resíduos que são descartados diariamente, a compostagem também gera dois produtos muito ricos em nutrientes para as plantas. Uma parte é a do composto orgânico, que pode servir como adubo para hortas e jardins e que não oferece nenhum risco ao meio ambiente. Caso sejam utilizadas minhocas no processo de decomposição, o composto é denominado humus de minhoca, que é ainda mais nutritivo.
O outro resultado é o chamado “chorume”, o líquido resultante da decomposição orgânica. Além de ser um ótimo fertilizante, o chorume é também um pesticida natural, que pode ser utilizado amplamente. Entretanto, em função da alta concentração de nutrientes, recomenda-se que seja feita a diluição do líquido na proporção de uma parte de chorume para dez partes de água.
O que colocar não colocar e o que colocar na composteira
Ainda que o processo seja muito simples, ele exige alguns cuidados básicos. Por exemplo, não é recomendável que a composteira fique exposta ao sol, principalmente se contiver minhocas. Além do calor excessivo, que pode matar a criação, o sol também resseca o plástico da composteira, diminuindo a vida útil do equipamento que, normalmente, é muito longa.
Também é preciso considerar o tipo de matéria orgânica que deve ser colocado na composteira. Em hipótese alguma devem ser depositados fezes ou restos de animais — como sobras de carnes e ossos de frango —, alimentos temperados, cascas e pedaços de frutas cítricas em excesso, alho, cebola, madeiras tratadas, a maior parte dos papéis —principalmente com tinta —, laticínios, carvão e plantas doentes. Seja pela dificuldade de se decomporem ou pela possibilidade de contaminarem o composto com substâncias nocivas às plantas, esses materiais devem ser descartados no lixo comum.
De resto, cascas e talos de frutas e de legumes, folhas e flores secas, serragem de madeira não tratada e borra de café e de chás são ótimas fontes de nutrientes e os resultados esperados da compostagem. Cascas de ovos também podem ser adicionadas. Porém, como têm a decomposição mais lenta, é interessante que seja quebradas ou mesmo trituradas, antes de serem colocadas na composteira. Outra boa dica é, de vez em quando, colocar um pouco de terra de boa qualidade, de preferência seca, que acrescentará micro-organismos ao composto, facilitando o processo de decomposição.
Por fim, vale dizer que, como o tempo e com a prática, o gerenciamento do processo vai se tornando cada vez mais prático e eficiente. Como existem vários vídeos e textos sobre o assunto disponíveis na internet, não custa nada dar uma olhadinha.