A sustentabilidade como oportunidade de negócio
por Carlos Alberto Rocha *
“Não há sustentabilidade ambiental sem sustentabilidade econômica”. Dita por uma liderança do setor minerário em meados dos anos 2000 em um dos tantos seminários sobre meio ambiente e sustentabilidade que ajudei a organizar, esta frase me marcou bastante na ocasião. Afinal, mesmo que de forma polida, ela surgia como uma firme e quase raivosa reação dos empresários da mineração à força que as causas ambientais haviam adquirido naquela época.
De fato, então, aquele empresário percebera que os processos industriais, em todos os níveis, estavam sofrendo uma forte pressão para se adaptarem às normas ambientais cada vez mais exigentes. Uma pressão que era exercida tanto pelos órgãos governamentais, quanto pela sociedade civil organizada e que era fruto da proatividade que vinha sendo assumida em nossa país na promoção do desenvolvimento sustentável.
Contudo, nos últimos tempos aqui no Brasil, esta realidade mudou e, em vários aspectos, vem retroagindo de maneira assustadoras, retornando às posições insustentáveis que o país parecia ter deixado no passado. Por outro lado, existe uma força que tem sido mais respeitada do que a sociedade e que logo deverá exigir que o bom caminho volte a ser trilhado.
Pressão do mercado
Por esses dias, conversando sobre sustentabilidade ambiental com um amigo, jovem e bem sucedido empresário no ramo de laticínios, ouvi dele uma afirmativa bastante óbvia, mas que a maior parte do empresariado não assume de forma tão explícita. Sem rodeios, o jovem assumiu que, de modo geral, uma empresa só se interessa pela sustentabilidade ambiental se esta resultar em alguma vantagem financeira para a empresa, seja ela qual for.
Ou seja, se agregar algum valor a um produto, serviço ou instituição, a sustentabilidade ambiental é bem vista. Caso contrário, torna-se um purgante que a imensa maioria das empresas deseja evitar.
Pois, felizmente, parece que é justamente daí que vem a salvação da lavoura. Afinal, cada vez mais, estão surgindo fortes argumentos comerciais que têm levado as empresas a darem prioridade a critérios de sustentabilidade e, curiosamente, estes não estão atrelados a benefícios sociais ou que têm por finalidade a preservação ambiental por si. Na verdade, o empresariado estão cada vez mais consciente dos benefícios financeiros que surgem quando ele se concentra em questões éticas e ambientais.
Oportunidade de negócio
Uma pesquisa realizada pela Smurfit Kappa e Longitude, empresa de embalagens sediada em Dublin, na Irlanda, entrevistou 200 líderes de negócios do Reino Unido. Como resultado, descobriu-se que 83% das empresas acreditam que a sustentabilidade é uma oportunidade de negócio a ser explorada. Cerca de 72% esperam que a sustentabilidade seja uma tendência duradoura e 74% estão comprometidas em permanecer à frente dos concorrentes em questões de sustentabilidade.
Na pesquisa da Smurfit Kappa, quase a metade dos entrevistados citou que a melhora na eficiência e a redução de desperdícios nas empresas que representavam figuravam como duas das principais vantagens de se adotar estratégias de sustentabilidade. Mais de um terço afirmou que a economia de custos é um fator importante.
Para as empresas que adotam a sustentabilidade em seus processos fica claro, portanto, que há uma economia de dinheiro, o que as coloca em vantagem comercial diante das que não adotam estratégias equivalentes. Entretanto, a pesquisa da Smurfit Kappa apurou que, mesmo já tendo superado a visão de que a sustentabilidade representaria um custo, 82% das empresas pesquisadas consideram a sustentabilidade como um investimento de longo prazo.
Valor para o consumidor
Em outra frente, a pesquisa ouviu 1.500 consumidores. Mais da metade disse ter comprado pelo menos um produto nos seis meses anteriores porque apresentava embalagens reutilizáveis ou biodegradáveis. Quase o mesmo número de pessoas havia rejeitado um produto porque sua embalagem não era sustentável.
De maneira crescente, a pressão dos consumidores por produtos que obedeçam critérios de sustentabilidade vem aumentando. Mais do que isso, os compradores estão se tornando ativistas da causa.
Tanto que mais de um quarto dos entrevistados pela Smurfit Kappa afirmou ter feito uma reclamação formal nos seis meses anteriores a uma empresa por suas práticas ou por pacotes de negócios sustentáveis.
Todos estes são claros sinais de que, não mais por uma pressão legal ou por uma opção de consciência do empreendedor, as empresas estão se vendo obrigadas a adotar as medidas de sustentabilidade. As que estão seguindo por este caminho, estão conquistando relacionamentos mais fortes com a clientela e, consequentemente, esperam obter maior faturamento. as que não vão por ele, provavelmente, perderão vantagem competitiva.
Sendo assim, sem invalidar o que há mais de 15 anos disse aquele minerador que citei logo no início deste post, devemos reconhecer que a sustentabilidade econômica não é possível sem a sustentabilidade ambiental.
* Editor do Comunidade Ativa, Carlos Alberto é jornalista especializado em Educação Ambiental