Cuidado: a mentira tem pernas curtas, mas é ligeira
O novo coronavírus foi criado em laboratório. A hidroxicloroquina é o tratamento mais efetivo para a covid-19. O uso de máscaras prejudica o sistema imunológico. As vacinas matam. Entre outras, estas são algumas das afirmações polêmicas que têm circulado pela internet e que também sustentam a produção Plandemic. Em poucos dias o vídeo alcançou milhões de visualizações no YouTube e recebeu compartilhamentos também expressivos no Facebook, no Instagram e no Twitter.
Com 26 minutos de duração, o pretenso documentário, que no Brasil ganhou o título A verdade por trás da covid-19 – Plandemic , logo cativou público considerável. A partir de declarações bombásticas da ex-pesquisadora médica Judy Mikovits, que já levou a renomada revista Science a uma retratação pública, o produtor Mikki Willis Wiki obteve um dos melhores resultados midiáticos recentes.
Mas, será que o conteúdo do vídeo de fato merece crédito?
Teorias da conspiração
Fundador da Elevate, que assina Plandemic, Willis é reconhecido pela imprensa especializada em cinema como um cineasta prolífico, que teve acesso a inúmeras mentes privilegiadas, que foram entrevistadas em suas produções. Contudo, o nome do produtor também está ligado a teorias da conspiração, condição que foi corroborada pelo seu último lançamento.
O AFP Checamos, blog em português da Agence France-Presse (AFP) especializado na checagem de notícias e de informações diversas, comparou as alegações feitas no vídeo com o que é amplamente aceito pela comunidade acadêmica e científica. Como conclusão, o blog declara que o vídeo viralizado “Plandemic”, protagonizado pela polêmica pesquisadora Judy Mikovits e realizado pelo ex-modelo e produtor Mikki Willis Wiki, contém informações falsas e enganosas sobre o surgimento da covid-19 e seus métodos para prevenir a doença e tratá-la.
De acordo com o blog, tanto o Youtube quanto o Facebook já adotaram medidas para retirar o vídeo se suas plataformas.
Pandemia de falsidade
Infelizmente, não é de hoje que a internet se apresenta como o meio ideal para a propagação de fake news e a pandemia de falsidade se intensificou ainda mais desde que o novo coronavírus se espalhou pelo mundo. Em outra checagem do blog da AFP são listadas nada mais nada menos do que 80 notícias que foram classificadas como falsas ou enganosas após a checagem, o que é preocupante.
Afinal, a informação falsa pode causar desde uma simples ansiedade até posturas extremas e a atitudes perigosas. Portanto, é fundamental combate-la, o que pode ser feito de maneira rápida e muito simples.
Você pode checar
Além do já citado AFP Checamos, no Brasil temos outros sites de checagem de notícias que podem servir para tirar suas dúvidas sobre a veracidade de uma informação. Selecionamos oito, que certamente facilitarão bastante essa tarefa:
- Fato ou Fake, do Grupo Globo;
- Projeto Comprova, formado por uma rede que inclui vários órgãos de imprensa;
- Truco, da Agência Pública;
- Aos Fatos, agência criada para a finalidade de checagem;
- Lupa, da Folha de São Paulo;
- Fake Check, iniciativa conjunta da USP e da Universidade de São Carlos;
- Boatos, site do jornalista Edgard Matsuki que, desde de 2013, se dedica a derrubar notícias falsas;
- E-Farsas, do analista de sistemas Gilmar Lopes, que cumpre a mesma função desde 2001.
Sobre temas específicos de saúde, o Ministério da Saúde mantém a página Saúde Sem Fake News e o serviço de checagem pelo WhatsApp que é fornecido pelo número 61992894640.
Use o bom senso
Além desses recursos, o bom senso é outra ótima ferramenta para combater a notícia falsa ou enganosa. Para utilizá-la, comece desconfiando de algo que pareça muito espetacular e que esteja fora da curva da normalidade.
Ora, é verdade que acontecimentos extraordinários surgem inesperadamente — temos aí uma pandemia para comprovar. Porém, eles não ocorrem com muita frequência e quando acontecem são amplamente noticiados.
A partir desta constatação, chegamos ao nosso segundo ponto de bom senso: se você recebeu uma notícia que não foi ainda anunciada por autoridades reconhecidas ou noticiadas pela imprensa, desconfie. Antes de acreditar, procure checar.
Terceiro, sempre que tiver dúvida, não tenha vergonha de perguntar para mais de uma pessoa sobre a veracidade de uma informação. Quanto mais exposta, mais inconsistente se torna uma mentira. Mas, atenção: tirar dúvida com alguém não significa compartilhar a notícia falsa como verdadeira.
Este alerta nos leva à última recomendação: jamais compartilhe aquilo que você não tenha segurança de que é verdade. Agindo desta forma você ajudará a evitar que uma notícia falsa se alastre com rapidez ainda maior.
Afinal, a mentira tem pernas curtas, mas, em tempos de internet, ela é bastante ligeira.