Além de afetar o planeta, o ser humano está interferindo negativamente na própria evolução. Mas, a história ainda pode ser mudada!
Após 10 anos de pesquisas no campo da neurobiologia e com base em estudos realizados por cientistas de vários países, em 2014, o biólogo francês Jean-François Bouvet causou sensação com o lançamento de seu livro Mutants: A quoi ressemblerons-nous demain ? (Mutantes: como seremos amanhã?, Flamarion, 221 páginas), que observa aspectos até então inéditos da evolução humana. Com suas conclusões, o autor acrescenta um fato novo à consagrada tese do naturalista Charles Darwin, que propôs que as espécies evoluem sob a influência de mudanças no ambiente natural, determinantes para a seleção de indivíduos que conseguem se adaptar a elas.
Retroevolução
Para Bouvet, o ser humano vem passando por transformações que teriam sido definidas pela própria civilização e não somente pelo meio natural, em um processo que o biólogo batizou como sendo o de uma retroevolução. “Desde a Revolução Industrial, no início do século 19, vivemos um processo em que o ambiente modificado pelo homem tem mais influência em sua evolução que a seleção natural. E essas mudanças são, geralmente, negativas”, disse o cientista à AFP à época do lançamento.
Bouvet concluiu, portanto, que, em decorrência da forma como vive, a espécie humana vem sendo alterada biologicamente por ela mesma. “Pela primeira vez em sua história, a modificação de seu meio ambiente pelo Homem é o principal fator de sua evolução, superando a seleção natural. Não é uma evolução no sentido de Darwin, mas uma retroevolução”, resumiu Bouvet.
A partir do levantamento que fez, estre outros aspectos, o biólogo percebeu, por exemplo, que as pessoas estão vivendo mais e ficando obesas e que a fertilidade masculina vem diminuindo. Como consequência, o autor acredita que o futuro da humanidade será de “velhos, gordos e inférteis”, com ele mesmo disse.
Antropoceno
Entretanto, a ação negativa do homem não vem causando interferências somente sobre a nossa própria espécie. Muito além disso, a humanidade está criando um mundo artificial paralelo ao natural que já teria se equiparado em massa ao que pesam todos os organismos vivos da terra, o que é assustador. Esta conclusão foi publicada em artigo na revista Nature por uma equipe de cientistas do Instituto Weizmann, de Israel, no último dia 9 de dezembro.
Os professores de Paleobioliga Jan Zalasiewicz e Mark Willians, da Universidade de Leicester, na Inglaterra, destacam que, há alguns anos, os pesquisadores israelenses calcularam a massa de toda a vida na Terra – o que inclui a de todos os peixes no mar, micróbios no solo, árvores na terra, pássaros no ar e muito mais — e concluíram que a biosfera do nosso planeta pesa um pouco menos de 1,2 trilhão de toneladas de massa seca, sem contar a água, com as árvores constituindo a maior parte. “Havia mais ou menos o dobro disso antes de os humanos começarem a derrubar florestas. E ainda está diminuindo”, ressaltam os professores em artigo no The Conversation.
No novo estudo, a equipe de Israel investigou as estatísticas da produção industrial e dos fluxos de massa de todos os tipos e reconstruiu o crescimento ao longo do século 20 daquilo eles chamam de massa antropogênica — que são nossas casas, carros, estradas, aviões e tudo mais que a humanidade criou. “O padrão que encontraram é notavelmente diferente. As coisas que construímos chegaram a algo como 35 bilhões de toneladas no ano de 1900, aumentando para quase o dobro disso em meados do século 20. Então, com aquela explosão de prosperidade após a segunda guerra mundial, chamada de Grande Aceleração, nosso material aumentou várias vezes para pouco mais de meio trilhão de toneladas no final do século. Nos últimos 20 anos, dobrou novamente, para ser equivalente, este ano, à massa de todos os seres vivos”, explicam Zalasiewicz e Willians.
De acordo com o estudo israelense, mantidas as tendências atuais, até 2040, tudo o que o homem criou até agora pesará três vezes mais do que pesam todos o seres vivos existentes sobre a Terra. Coincidentemente, um estudo da Universidade de Tarapacá, no Chile, prevê colapso da civilização em 40 anos.
Mas, a história pode ser mudada.
Emergência climática e pegada ecológica
As evidências científicas sobre os impactos negativos da ação humana sobre a nossa própria espécie e sobre o planeta no qual vivemos são e fato alarmantes. Contudo, na Era da Humanidade, ou no Antropoceno, como já é aceito o período geológico em que vivemos, pode haver a reversão das catástrofes que estão sendo anunciadas, caso sejam adotadas as medidas necessárias.
Uma delas, tida como urgente pela comunidade científica, seria a neutralização das emissões de carbono. Com essa expectativa, no sábado, 12 de dezembro, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) António Guterres apelou aos líderes mundiais para que declarem em seus respectivos países um estado de emergência climática. Nesse sentido, as nações teriam que perseguir a meta de zerar as emissões de carbono até 2050, o que representa um corte de 45% no volume de gases de efeito estufa que são lançados na atmosfera, tomando-se como referência os níveis apurados em 2010.
Outra ação necessária, que simultaneamente contribuirá com esta meta mundial de zerar as emissões e para que a interferência sobre nossa evolução seja positiva, passa pelo comportamento de cada pessoa. Para atingi-la, é fundamental que sejam revistos os nossos hábitos de consumo e a forma como nos relacionamos com o meio onde vivemos.