Cidadania

Que venha um 2021 de superação e de transformação!

por Carlos Alberto Rocha*

Em 31 de dezembro de 2019, quando nos preparávamos para festejar a chegada de um ano novo que, como tantos outros, vinha cheio de promessas, não imaginávamos o tipo de balanço que estaríamos fazendo no mesmo dia em 2020. É verdade que as primeiras manifestações da Covid já ocorriam na China e a possibilidade de uma pandemia já era considerada pelos especialistas e anunciada pela imprensa. Porém, além de um grupo seleto de profissionais, no qual podemos incluir os autores de ficção científica, ninguém fazia a mínima ideia do que estava por vir.

Mesmo assim, sem consideração pelos desavisados, a realidade não se fez de rogada e passou por cima de todas as expectativas — conformistas, otimistas e até das mais pessimistas — e nos trouxe a surpresa que ninguém desejava. Sem tempo para ficarmos surpreendidos, passamos a experimentar um emaranhado de sensações terríveis que estão sendo provocadas pelo medo do vírus e da morte, pela tristeza de vidas perdidas e pelo sofrimento físico que se concretiza em quem contrai a doença.

De fato, estamos vivendo a insegurança, as perdas materiais e também sofrendo com toda a ansiedade que se alastrou pelo mundo. Mas, as boas novas já começam a surgir.

Superação

Precisamos considerar que, como sempre aconteceu, todos esses reveses está despertando em nós a capacidade de superação que é própria da humanidade.  Prova disso está no desenvolvimento acelerado de vacinas e de outras drogas que prometem criar uma nova e consistente linha de enfrentamento ao coronavírus e que, em algum momento, deve fazer com que a doença recue para níveis toleráveis.

Ao mesmo tempo, a despeito da resistência de uma parcela considerável da população que, infelizmente, tem se manifestado contra medidas individuais e coletivas fundamentais para o combate à pandemia, um grande número de pessoas tem agido racionalmente. Assim, elas estão seguindo as recomendações de distanciamento social, de uso de máscara e de higienização frequente das mãos que foram definidas por quem entende dos protocolos sanitários e que são indispensáveis no momento.

Ainda, é importante considerar as ações de solidariedade e de empatia que têm surgido por todos os lados e que, de alguma forma, têm ajudado a minimizar as dificuldades. Ou seja, apesar de todos os pesares, estamos avançando.

Renovação

Com certeza os avanços ainda não chegaram com a velocidade que gostaríamos que viessem e é verdade que o vírus continua fazendo miséria por onde passa. Mas, em um ritmo razoável, estamos avançando e, com isso, estamos mais perto de um controle da doença e do fim da pandemia do que estávamos há um ano.

Também devemos considerar que, se por um lado muitas vidas foram perdidas, por outro, muitas mais surgiram. De fato, não há que se falar em compensações de vidas, pois cada uma das que se foram tem o seu significado próprio. Contudo, os números indicam que os nascimentos continuam superando os óbitos, o que é algo que precisa ser considerado, sobretudo diante de todas as perdas sofridas.

No Brasil, por exemplo, de janeiro a novembro, o Portal da Transparência do Registro Civil assinala que os cartórios registraram um total de 1.423.935 óbitos em todo o país. Infelizmente, em função da Covid, esse número é bastante superior aos 1.258.947 de registros de todo o ano de 2019 e maior ainda do que os menos de 1,2 milhão de óbitos de 2018.

Entretanto, nos últimos 11 meses, 2.557.975 novas brasileirinhos e brasileirinhas nasceram, mantendo o movimento de renovação com um saldo favorável de mais de 1,1 milhão de vidas que foram acrescentadas à nossa população.

Ação pra ontem

Agora, nesse final de um ano pra lá de difícil, é muito importante e necessário levarmos em conta que esta renovação é real e que não se limita àquelas que desejamos nos votos de final de ano. Pensando assim, podemos considerar que só no Brasil temos cerca de 2,6 milhões de novas possibilidades e de oportunidades para haver por aqui um belo futuro.

Todavia, pra que o futuro aconteça da maneira como desejamos, será necessário encararmos de frente os tantos problemas que a humanidade precisa enfrentar e que, em perspectiva, são muito mais graves do que a pandemia que estamos vivendo. Aliás, podemos até encarar a pandemia como apenas uma das múltiplas manifestações deste problema.

É para ontem! A humanidade precisa entender que estamos à beira de uma pane planetária, que, segundo os cientistas, deverá ocorrer dentro de no máximo 40 anos. Precisamos urgentemente acordar para o fato de que o nosso planeta está próximo de atingir a exaustão de seus recursos e de alcançar um estágio de alteração climática que promete trazer consequências inacreditavelmente mais graves do que a Covid tem provocado.

Já no presente, caso não existissem as invenções humanas que, artificialmente, aumentam a capacidade de produção de alimentos, a fome já estaria alcançando número muito maior do que as 820 milhões de pessoas que, no mundo, de acordo com a ONU, não tiveram acesso suficiente à alimentação em 2018. Além disso, ano após ano, as mudanças climáticas estão causando estragos cada vez mais frequentes mundo afora, fazendo isso de uma forma que já podemos perceber com facilidade no nosso dia a dia.

Com as secas prolongadas, tempestades destruidoras e enchentes que já se tornaram comuns, é bastante óbvio como o nosso planeta está reagindo de forma ríspida a todas as interferências negativas que impusemos a ele.

Feliz transformação

Com certeza, a virada do ano pede celebrações e manifestações de otimismo, o que, sem deixar de lado o respeito pela dor e pela tristeza que se espalhou pelo mundo, temos todo o direito de buscar nesse momento. Mesmo diante de tanta aflição, ainda podemos e devemos vislumbrar tempos melhores.

Todavia, pra que esses tempos venham com a prosperidade que desejamos, precisamos encarar uma realidade: a hora de começarmos a agir já passou e o agora é o prazo de tolerância que recebemos como bônus.

Sendo assim, espero que 2021 não venha só como um ano de promessas. Profundamente, eu desejo que a superação de todas as dificuldades que enfrentamos em 2020 de fato se concretizem. Todavia, muito mais do que isso, espero que o ano novo surja como uma oportunidade para que as pessoas entendam a importância que cada uma delas, individualmente, e que todas elas, coletivamente, têm no inadiável processo de transformação positiva que devemos iniciar imediatamente.

Portanto, desejo a você e a todo a sua família um Feliz Ano Novo de superação e de muita transformação!

 

      * Carlos Alberto é presidente da Amoran e editor do Comunidade Ativa