Por que há quem resista tanto ao uso de máscara? A psicologia explica.
Para quem já acatou o uso da máscara como uma imposição incontornável na prevenção ao contágio pela Covid-19, a recusa em usar o equipamento por parte de algumas pessoas é algo que causa um estranhamento que, muitas vezes, chega à revolta. Contudo, mesmo havendo a obrigatoriedade legal da utilização em determinados ambientes — o que é definido tanto por lei federal quanto por lei do município de Belo Horizonte —, há quem não se satisfaça em desobedecer as normas e que extrapola os próprios limites do bom senso, criticando quem usa e estimulando o descumprimento da legislação em vigor.
De fato, mesmo havendo leis, é preciso considerar que cabe ao indivíduo decidir se obedece ou não o que é recomendado pelos especialistas em infectologia. Este é um raciocínio válido também para as medidas de distanciamento social.
Mas, o que influencia, afinal, as decisões dos rebelados?
A psicologia explica
Os discursos de recusa são vários e uma resposta única certamente não resolve a questão. Em artigo publicado no site The Convesation, os professores de Psicologia da Helen Wall, Alex Balani e Derek Larkin, da Edge Hill University, na Inglaterra, destacaram que fatores relacionados ao nível de renda, filiação política e gênero foram associados à aceitação das pessoas por usarem ou não a máscara e por por manterem o mesmo comportamento como relação à necessidade de distanciamento social.
Porem, os autores também destacam outros motivos para que haja essa resistência contra as medidas recomendadas pelos especialistas. “Pesquisas anteriores mostraram que fatores psicológicos, como a percepção de risco de um indivíduo e a tendência a um comportamento de risco, influenciam a adesão a comportamentos de saúde. Isso agora está sendo visto na atual pandemia”, diz o artigo.
Um estudo ainda não publicado e que requer revisão citado pelos professores indica a maior propensão para tomadas de decisões arriscadas em relação estreita com a menor probabilidade de usar apropriadamente uma máscara ou de manter o distanciamento social. Outra pesquisa destaca as percepções que as pessoas têm individualmente sobre o risco da Covid-19 como fatores que determinam a aceitação das regras.
Reatância
Outro fenômeno que pode ter relação com a resistência às medidas mais consagradas de contenção da epidemia é denominado pelos autores como sendo o da reatância psicológica — uma analogia com a oposição que determinados componentes eletrônicos, como indutores e capacitores, fazem à circulação de uma corrente elétrica que denominada reatância no jargão da física. “É aí que as pessoas acreditam veementemente que têm liberdade para se comportarem como quiserem e que experimentam emoções negativas quando essa liberdade é ameaçada e, assim, ficam motivadas a restabelecê-la”, consideram os professores.
Vendo a liberdade de comportamento sendo ameaçada, algumas pessoas reagem com raiva e com outras emoções negativas. Assim, para reduzirem a sensação desconfortável, elas deliberadamente desobedecem às normas, tentando restaurar a própria liberdade.
Como encorajar o uso de máscara
Desde o início da pandemia, os estudiosos da psicologia passaram a investigar as resistências que estava surgindo com relação ao distanciamento social e ao uso de máscara e, ainda que preliminarmente, já chegaram a algumas percepções. Entre as principais está a observação de de que há a possibilidade de aplicação de uma variedade de técnicas da psicologia social nestes casos.
Uma das mais eficientes seria conversar com as pessoas resistentes sobre a existência de um consenso. “Quando você mostra que uma atitude é compartilhada (ou não) por outras pessoas, é mais provável que quem é resistente a adote. Ver alguém usando uma máscara torna mais provável que outras pessoas façam o mesmo. As estratégias de persuasão poderiam, portanto, se concentrar em garantir que as pessoas percebam o uso de máscara como algo comum — talvez retratando-o com frequência na mídia ou tornando-o obrigatório em determinados lugares”, explica o artigo.
Os professores citam estudos anteriores que demonstram que existe maior probabilidade de as pessoas cumprirem as diretrizes de saúde pública se estas forem claras, precisas, simples e consistentes. Ainda, é preciso que elas confiem na fonte que divulga tais medidas.
Estratégias personalizadas
Porém, há um limite para as abordagens gerais. Descobertas iniciais na área de persuasão personalizada sugerem que pode ser mais eficaz tentar abordagens particulares para as pessoas, que sejam direcionadas com base em combinações de suas características principais, de acordo com seus perfis psicológicos
Por exemplo, em um artigo recente de pesquisa que não está relacionada à Covid foram relacionados três perfis principais de personalidade. As pessoas que são mais tímidas, socialmente inibidas e ansiosas tendem a relatar ser mais propensas a serem persuadidas por quem está em posição de autoridade, enquanto aquelas que são mais autocentradas e manipuladoras tendem a sentir o contrário. Eles relatam ter menor probabilidade de serem influenciadas por figuras de autoridade.
No terceiro grupo – das pessoas agradáveis, extrovertidas e conscienciosas – estão aquelas mais propensas a serem persuadidas a fazerem algo se for consistente com o que fizeram antes e menos propensas se isso exigir que mudem de posição. De acordo com o estudo, isso significa que, se no passado elas decidiram que usar máscaras é uma coisa ruim, é mais provável que agora elas resistam a quaisquer esforços para usarem.
Por fim, os professores destacam que um outro estudo também recente concluiu que gritar para as pessoas usarem máscaras não adianta. A pesquisa sobre persuasão personalizada confirma isso. Apenas aqueles do grupo tímido e ansioso provavelmente responderiam bem a uma tática tão direta e pesada.
Melhor seria tentar uma abordagem empática, que busque entender as diferentes motivações de diferentes grupos de pessoas – incluindo se há reatância psicológica em jogo – e, então, adaptar as mensagens de acordo com os indivíduos.
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