Saúde & Qualidade de Vida

Com a vacinação, o que muda nas considerações sobre o uso de máscaras?

Desde o início da pandemia, quando o uso de máscara foi apontado como um dos poucos recursos disponíveis para a prevenção à Covid-19 que têm alguma eficácia comprovada, parece que estamos vivendo um eterno loop, que sempre nos devolve ao princípio de uma discussão totalmente improdutiva. Felizmente, para quem já compreendeu a maneira como o SARS-CoV-2 e tantos outros vírus se propagam — e até para quem não entendeu, mas aceita as afirmações de quem conhece o assunto — a conversa está superada e a máscara vem sendo usada regularmente, sem nenhum problema.

Por outro lado, quem se sente especialmente desconfortável com o equipamento e para quem leva o assunto para outros campos de discussão, que nada têm a ver com os aspectos sanitários, as máscaras continuam sendo motivo de resistência e até de rebeldia. Com a liberação do uso nos Estados Unidos, o tema ganhou nova força e, com o acréscimo de novas considerações, como as relacionadas às vacinas, velhos questionamentos voltaram à tona.

Então, diante do avanço no processo de vacinação no Brasil, vale a pena revisar o que a ciência — sempre a ciência — já havia afirmado sobre o uso de máscaras e o que há de novo nessa pauta.

O que já falamos no Comunidade Ativa

Há um ano, sempre com as referências para as fontes incluídas em links nas próprias matérias, temos publicado uma série de considerações científicas e legais sobre o uso de máscaras. Nesse sentido, já destacamos, por exemplo, as informações falsas sobre o assunto — como as que dizem que máscaras prejudicam a oxigenação do sangue e que fazem com que aspiremos o gás carbônico da nossa própria respiração. Também abordamos as motivações psicológicas que levam as pessoas a resistirem ao uso do equipamento e verificamos o que os especialistas dizem sobre as formas como a máscara atua na prevenção.

Sobre esse último aspecto, vale ressaltar que as pesquisas já relacionaram a gravidade dos casos de Covid-19 à concentração de vírus que uma pessoa contrai. Portanto, tendo em vista que a máscara funciona como uma barreira para as cargas virais, mesmo aquelas que não conseguem impedir a transmissão se mostram úteis ao evitar que uma grande quantidade de vírus seja contraída. Assim, ainda que a doença se manifeste, ela ocorrerá de forma mais branda, o que reforça a necessidade das máscaras.

Ainda, vale lembrar que apresentamos informações sobre os tipos de máscaras e a maior eficácia da sobreposição de camadas, quando a máscara utilizada for de pano ou do tipo que não filtra tão bem as partículas — como as N95 conseguem fazer, por exemplo.  Ao mesmo tempo, verificamos o que a legislação mineira e do Município de Belo Horizonte dizem sobre as máscaras, que continuam obrigatórias em todo o estado.

Com relação a estas e a outras pautas que verificamos, todas as informações continuam válidas.

A ameaça do vírus permanece mesmo após a vacina

Quando ficaremos livres das máscaras? Esse é um assunto que também foi abordado pelo Comunidade Ativa em matéria anterior, mas que, recentemente, ganhou nova dimensão após a liberação do uso do equipamento nos Estados Unidos. Mostrada com alarde festivo pela imprensa, inclusive aqui no Brasil, a medida adotada pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças daquele país (CDC, na sigla em inglês) causou apreensão em alguns infectologistas, que consideram a decisão precipitada.

Entre os críticos da liberação está o médico epidemiologista Eric Feigl-Ding, que, em entrevista à rede de televisão CBS, foi incisivo quanto à decisão do CDC. “Acho que o CDC cometeu um erro grave. Sabemos que menos da metade dos americanos está totalmente vacinada. Sabemos que crianças menores de 12 anos sequer podem ser vacinadas. Sabemos também que muitas pessoas com baixa imunidade não são capazes de montar uma defesa suficiente, mesmo com vacinas. Essas pessoas precisam contar com a imunidade natural que será obtida se a maioria de nós for vacinada”, observou o cientista.

Além disso, Feigl-Ding alertou para a possibilidade de as pessoas não serem honestas com relação à própria vacinação. “Se você vai a uma mercearia e vê alguém sem máscara não sabe se a pessoa não está usando porque está vacinada ou porque é contra a máscara, ou é antivacina ou resistente à vacina. Isso é um problema. Há muitos de nós vulneráveis e o vírus se espalha muito mais rápido do que antes e está potencialmente mais suscetível às crianças”, alertou o epidemiologista.

Vacinados também podem transmitir

Na entrevista dada à repórter Tanya Rivero, Feigl-Ding apontou um caso ocorrido com time de beisebol New York Yankees, que, em maio, registrou nove casos de infectados entre atletas e membros da equipe técnica que já estavam vacinados. “Mesmo se você for vacinado, você pode levar o vírus para alguém em sua casa que não esteja vacinado e que seja vulnerável. É outro problema. A vacina protege contra doenças graves, mas não protege 100% de carregá-la para outras pessoas. Vimos isso na equipe do New York Yankees, que estava totalmente vacinada”, lembra o cientista.

Em artigo para o site The Conversation, o especialista em vacinas e coordenador de pesquisas da Universidade Vanderbilt, nos Estados Unidos, Sanjay Mishra, faz observações nesse mesmo sentido. Para Mishra, ainda que as vacinas representem uma conquista de grande valor para o combate à pandemia, elas não devem significar motivo para, por ora, abrirmos mão dos demais mecanismos de prevenção. “As vacinas podem ser ótimas para evitar que você adoeça. Porém, ao mesmo tempo, não impedem necessariamente que você fique infectado ou que você espalhe o vírus”, resume o especialista.

Segundo Mishra, evidências preliminares parecem sugerir que as vacinas diminuem a probabilidade de alguém vacinado transmitir o coronavírus. “Mas, a prova ainda não é sólida. Pessoas não vacinadas ainda devem ser cuidadosas quanto ao uso de máscara, distanciamento físico e outras precauções contra o coronavírus”, recomenda.

Portanto, observando as velhas e as novas considerações sobre o uso de máscara, a conclusão não é nada difícil de obter. Mesmo que a pessoa esteja vacinada, manter o uso da máscara continua prevenindo que ela contraia o vírus e que o transmita para quem ainda não se vacinou — ou que vacinou, mas tem a imunidade comprometida.

Sendo assim, a recomendação não mudou: mesmo se você já recebeu a vacina, continue usando máscara. Agora, além da utilidade prática, de prevenir a transmissão do vírus, a máscara funciona como um símbolo claro de que você é uma pessoa que se importa com quem está à sua volta.

 

Uma dica

Para mais informações sobre os temas abordados nessa matéria, acesse os links disponíveis ao longo do texto. Eles remetem às fontes utilizadas aqui. 

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