Que já se vacinou contra a Covid-19, pode se livrar da máscara? Confira o que diz um especialista!
A vacinação contra a Covid-19 no Brasil parece que engatou um bom ritmo e é possível que, dentro de poucos meses, toda a população vacinável já esteja devidamente imunizada. Com isso, as pessoas já começam a pensar em abandonar o uso da máscara, o que tem provocado dúvida nas mais cautelosas.
Afinal, será que uma pessoa vacinada ainda pode se contaminar e transmitir o vírus? Em artigo no site The Conversation, o doutor em Biologia, Química e Física e especialista em vacinas Sanjay Mishra analisou o assunto.
Fase de aprendizado
Não resta dúvidas de que as vacinas superaram o sucesso que delas era esperado. Em Israel, por exemplo, em 6,5 milhões de pessoas vacinadas , a vacina da Pfizer apresentou eficácia de 95,3% após a aplicação das duas doses. No país, as infecções por Covid caíram 30 vezes. Nos Estados Unidos, apenas 0,05% dos profissionais de saúde dos estados da Califórnia e do Texas que completaram o ciclo vacinal apresentaram exame positivo para a doença.
Entretanto, de acordo com o doutor Mishra, os desenvolvedores de imunizantes muitas vezes esperam que, além de prevenir a doença, as vacinas atinjam a chamada imunidade esterilizante, na qual a vacinação impede, inclusive, que o germe seja capaz de entrar no organismo. “Essa imunidade esterilizante significa que alguém que foi vacinado não pegará o vírus nem o transmitirá. Para uma vacina ser eficaz, no entanto, ela não precisa impedir que o germe infecte uma pessoa imunizada”, explica o especialista.
Segundo Mishra, sobre as vacinas contra a Covid-19, os imunologistas ainda estão descobrindo o que denominam como correlatos de proteção , que são os fatores que representam o grau de proteção de uma pessoa contra o coronavírus. “Os pesquisadores acreditam que uma quantidade ideal de anticorpos neutralizantes, o tipo que não apenas se liga ao vírus mas também evita que ele infecte, é suficiente para evitar infecções recorrentes . Os cientistas ainda estão avaliando a durabilidade da imunidade que as vacinas contra a Covid-19 fornecem e em que local do corpo elas atuam”, diz.
Incertezas sobre o transmissão após a vacina
De acordo com Mishra, os imunologistas de fato desejam que as vacinas que protegem contra doenças virais também reduzam a transmissão do vírus após a vacinação. “Mas, é realmente complicado descobrir com certeza se as pessoas vacinadas não estão transmitindo o germe”, considera.
Para o especialista, a Covid-19 representa um desafio particular, uma vez que pessoas com infecções assintomáticas e pré-sintomáticas podem espalhar a doença. Contudo, como o rastreamento e a testagem de contato são insuficientes, os infectados sem sintomas raramente são detectados.
Mishra destaca que alguns cientistas estimam que o número de infecções assintomáticas por Covid-19 na população geral possa ser de três a 20 vezes maior do que o número de casos confirmados. “A pesquisa sugere que os casos não documentados de Covid-19 em pessoas que eram assintomáticas ou tiveram doença muito leve podem ser responsáveis por até 86% de todas as infecções , embora outros estudos contradigam as altas estimativas”, observa.
Segundo o pesquisador, durante três meses, um estudo do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos testou semanalmente para SARS-CoV-2 profissionais de saúde voluntários e outros trabalhadores da linha de frente em oito locais do país, independentemente de haver sintomas ou do estado de vacinação. “Os pesquisadores descobriram que os participantes totalmente imunizados tinham 25 vezes menos probabilidade de teste positivo para Covid-19 do que aqueles que não foram vacinados. Descobertas como essa indicam que, se as pessoas vacinadas estão tão bem protegidas contra a infecção, também é improvável que espalhem o vírus. Mas, sem o rastreamento de contato para rastrear a transmissão em uma população maior, é impossível saber se a suposição é verdadeira”, avalia.
Segundo Mishra, a única certeza que existe é de que se alguém contrair Covid após a vacinação, no que é conhecido como infecção disruptiva, os sintomas serão mais brandos . “Estudos descobriram que pessoas com teste positivo para Covid-19 após receberem apenas a primeira dose da vacina tinham níveis mais baixos de vírus em seus corpos do que pessoas não vacinadas com teste positivo. Os pesquisadores acreditam que a diminuição da carga viral indique que as pessoas vacinadas que contraem o vírus serão menos infecciosas porque terão muito menos vírus que poderiam ser transmitidos a outras pessoas”, diz.
Para o especialista, essas evidências são promissoras. “Mas, sem mais estudos, os cientistas ainda não podem concluir que as vacinas Covid-19 realmente protegem contra todas as transmissões. Os estudos que tentam responder diretamente a essa pergunta por meio do rastreamento de contato estão apenas começando”, esclarece.
Por si só, a vacinação não alcançará a imunidade coletiva
Portanto, já ficou claro que as vacinas ajudam a retardar a propagação de uma doença infecciosa, quebrando a cadeia de infecção. Assim, os infectados acabam tendo cada vez menos pessoas desprotegidas para quem possam transmitir o vírus. “É assim que uma vacina aumenta a imunidade do rebanho – pessoas suscetíveis e ainda não imunizadas são cercadas por um ‘rebanho’ de pessoas que se tornaram imunes, graças à vacinação ou infecção anterior. Mas estudos sugerem que, por uma combinação de razões biológicas e sociais , a vacinação por si só não deve atingir a imunidade coletiva contra Covid-19 e conter totalmente o coronavírus”, alerta Mishra.
De acordo com o especialista, a vacinação sozinha pode exigir muito tempo para erradicar qualquer doença. “Mesmo doenças que foram quase eliminadas — como varicela, sarampo e coqueluche — podem ressurgir com o declínio da imunidade e o declínio das taxas de vacinação”, considera.
Pelo sim, pelo não, use máscara e mantenha o distanciamento
Mishra ressalta que o surto de infecções que recentemente ocorreu entre os atletas do time de beisebol New York Yankees, que já estavam vacinados, revelou que mesmo as pessoas imunizadas não só podem se infectar, mas também podem transmitir o coronavírus para contatos próximos. “Grupos altamente testados, como equipes esportivas profissionais, destacam o fato de que infecções leves e assintomáticas entre os vacinados na população em geral podem, na verdade, ser mais frequentes do que o relatado. Um surto semelhante em trabalhadores de um aeroporto em Cingapura mostra que, mesmo entre os totalmente vacinados, variantes novas e mais infecciosas podem se espalhar rapidamente”, ressalta.
Portanto, uma diretriz como a baixada nos Estados Unidos, que liberou as pessoas de usarem máscara, pode cumprir o objetivo de assegurar às pessoas vacinadas que elas, de fato, estão protegidas de doenças graves. Porém, de acordo com as observações de Mishra, as pessoas não vacinadas que interagem com quem já se vacinou não têm a mesma garantia. “Até que a imunidade de rebanho contra Covid-19 seja alcançada e evidências claras se acumulem de que as pessoas vacinadas não transmitem o vírus, eu e muitos epidemiologistas acreditamos que é melhor evitar situações onde há chances de infecção. A vacinação associada ao mascaramento contínuo e ao distanciamento social ainda é uma forma eficaz de se manter mais seguro”, conclui.
Em outras palavras, o seguro morreu de velho.
Uma dica
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