Comunidade Ativa impresso: de volta para acabar com o deserto de notícia na região
Não a dúvidas de que a internet criou uma facilidade enorme para a distribuição de notícias. Além da oferta dos noticiários existente na TV, nos rádios e até nos jornais impressos que ainda resistem, a partir de aplicativos ou diretamente nos portais jornalísticos, a qualquer hora do dia ou da noite, podemos ter acesso às mais variadas informações relacionadas às cidades, aos estados, ao Brasil e ao mundo, bastando pra isso ter às mãos um smartphone ou um computador.
Por lado, as informações sobre o que acontece à nossa volta, em nosso bairro ou nos bairros vizinhos e que, muitas vezes, exercem influências sobre a rotina do lugar onde vivemos, normalmente passam despercebidas, criando uma situação curiosa. Afinal, o que está fisicamente distante de nós acaba se tornando mais conhecido e presente em nossas vidas do que aquilo que está próximo e há uma razão muitos simples pra isso.
Naturalmente, os fatos locais — como a situação das ruas do bairro, uma onda de furtos de bicicleta na vizinhança ou os eventos da associação de moradores — não têm valor como notícia para as grandes empresas de comunicação. Com isso, os acontecimentos locais — relacionados ao cotidiano de uma pequena cidade ou de uma região de uma metrópole — e muito menos os hiperlocais — que ocorrem em uma região ainda menor, que abrange um número reduzido de bairros — acabam não sendo noticiados e, sem serem conhecidos, é como se não tivessem acontecido.
Com isso, é muito mais fácil saber o que está se passando em Tóquio durante as Olimpíadas — basta buscar no Google — do que obter uma informação sobre algo que esteja acontecendo em nosso bairro e que pode ter influência direta sobre nossas vidas.
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Os quase desertos
Onde a notícia não flui se forma o chamado “deserto de notícia”, um ambiente árido de informação, que afasta o cidadão da possibilidade de conhecer a realidade que está mais próxima a ele, o que dificulta o envolvimento das pessoas com os espaços em que elas vivem.
Por definição do Atlas da Notícia, projeto do Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor), um deserto de notícia se forma em uma cidade que, em geral, possui 7.100 habitantes e que não é servida por jornalismo local. De acordo com o projeto, hoje, 62% dos municípios brasileiros não contam com um jornal local, o que coloca 18% da população vivendo em desertos de notícias.
Outra situação bastante relevante acontece nos “quase desertos”, que, segundo o Atlas, surgem naqueles municípios que até são atendidos por jornalismo local, mas que não tem cobertura apropriada. Estes representam 19% do total de municípios brasileiros e somam população de cerca de 27 milhões de habitantes.
Entretanto, o levantamento feito pelo Atlas da Notícia não detalha um fato importante que ocorre nas grandes metrópoles onde, mesmo havendo cobertura jornalística no município, não há veículos em número suficiente que cubram os interesses hiperlocais. Está é uma função que é cumprida pelos jornais de bairro, que encontram no impresso um suporte até o momento insubstituível para a distribuição de notícias.
Informação em papel
Ainda que o jornalismo digital venha sepultando a versão impressa de vários dos jornais de maior circulação no mundo, ele não se apresenta como uma alternativa tão viável para o noticiário hiperlocal. Ora, uma vez que as notícias mais relevantes despertam o interesse de milhões de leitores, ouvintes e espectadores — o que significa que são altamente noticiáveis —, elas viabilizam grandes investimentos na apuração, na produção e na distribuição jornalística. Além disso, uma notícia de interesse amplo — como a saúde do presidente ou a classificação do Campeonato Brasileiro — acaba criando buscas espontâneas por parte do público, que vai atrás da informação, não esperando que ela chegue a ele.
O jornalismo de bairro, por sua vez, trabalha com um material noticioso de interesse bem mais restrito, que alcança alguns milhares de leitores. Com isso, mesmo que atenda a um público de perfil sócio econômico elevado — como o formado por moradores dos bairros da Região Centro-Sul de BH — esse tipo de jornalismo não comporta grandes investimentos.
Mesmo assim, ainda que a impressão não configure a mídia mais barata — ao contrário, é bem mais cara do que a digital — ela permite que uma informação que não seja relevante para o grande público, mas que é extremamente importante para um grupo populacional — como a qualidade das ruas ou do fornecimento de energia elétrica em um bairro —, possa ser entregue nas mãos do leitor de forma material, como um convite para que ele se informe sobre algo que influencia a qualidade de vida do lugar onde mora, trabalha ou tem negócios.
Notícia a domicílio
Desacostumada a se envolver com os temas de sua vizinhança — o que hoje é bastante comum nas grandes cidades — e sem acesso a um veículo jornalístico hiperlocal, grande parte das pessoas vive em um grau elevado de alienação sobre o que se passa à sua volta. Com isso, ao mesmo tempo em que, por falta de notícia, esse público é impedido de conhecer e de participar de questões locais relevantes — como de campanhas de segurança, petições ao poder público, eventos culturais e de lazer, entre outras —, também deixa de receber informações sociais ou de negócios que poderiam ser úteis ao seu dia a dia.
Para corrigir essa deficiência e, ao mesmo tempo, visando estimular o exercício da cidadania em sua área de circulação, o jornalismo de bairro, comunitário e impresso, se esforça para entregar a informação no domicílio do leitor, proporcionando a ele a possibilidade de interagir de uma forma mais efetiva com o lugar onde vive.
Comunidade Ativa de volta à sua função
Há 20 anos, o Comunidade Ativa cumpre a tarefa de romper com a desertificação noticiosa nos bairros onde circula — Anchieta, Cruzeiro, Carmo, Comiteco, Mangabeiras e Sion. Tratando dos temas locais e fazendo a comunicação institucional da Associação dos Moradores do Bairro Anchieta (Amoran), o jornal também e tornou um ótimo meio publicitário, que oferece excelente visibilidade para os anúncios que veicula e que constituem a única fonte de recurso para a produção.
Portanto, como consequência direta da pandemia, que levou ao cancelamento da maior parte dos contratos publicitários do jornal, desde o ano passado a versão impressa do Comunidade Ativa encontra-se suspensa. Desde então, para não interromper o esforço de comunicação do veículo, juntamente com a páginas do jornal no Facebook e no Instagram, esse site vem cumprindo com exclusividade a função jornalística de interesse do cidadão.
Porém, considerando as características da internet que foram mencionadas nesse post, o jornalismo hiperlocal, que constitui função do Comunidade Ativa, ficou seriamente prejudicado nesse período, o que exige a retomada da versão impressa. Para tanto, desde o início de julho, foram iniciados os esforços para alcançar meios necessários para garantir o retorno da publicação em sua forma tradicional — seja através de patrocínios comerciais, de contribuições pessoais ou a partir de novos contratos publicitários.
Caso você tenha interesse em saber mais sobre essa empreitada, envie email para jornal@comunidadeativa.jor.br.