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Quatro argumentos filosóficos que demonstram a utilidade da filosofia no cotidiano

Boa parte das pessoas quando ouve falar em “filosofia” logo pensa em longas conversas subjetivas, sem efeito prático imediato, ou em devaneios improdutivos. É possível que esse tipo de reação se deva à ausência da filosofia na vida diária, que, há muito tempo, diante de outros campos do conhecimento considerados mais úteis, deixou de ser vista como algo prioritário.

Em artigo no El País, o jornalista espanhol Jaime Rubio Hancock destacou quatro exemplos práticos de como a filosofia pode ser útil em nosso dia a dia, que serviram de base para essa postagem do Comunidade Ativa. Hancock lembra a definição da também espanhola Marina Garcés, a filósofa que disse que “a filosofia não é útil ou inútil. É necessária”.

A filosofia é um recurso fundamental, que permite que as pessoas pensem de forma crítica. Mas, como isso pode acontecer? Simplesmente, nos ajudando analisar situações cotidianas ou de momentos particulares, como sugere os argumentos dos exemplos a seguir.

  1. Na hora de ajudar outras pessoas

Temos vivido uma época em que as necessidades de vítimas de tragédias ou de pessoas que vivem em situação de pobreza nos enchem de dúvidas sobre a validade de uma pequena ajuda momentânea. “Será que minha doação fará alguma diferença?” e “É mais interessante ajudar uma região carente ou a ajuda será mais eficaz numa área de tragédia?” são algumas das questões que podem surgir e que nos remetem a uma corrente filosófica conhecida como “altruísmo eficaz”

Nessa linha, os filósofos entendem que, por menores que sejam, as ações podem ajudar bastante em momentos de dificuldade ou, ainda, provocar efeitos indiretos. Então, pensando bem, ainda que mínima, toda ajuda é oportuna para quem está em dificuldade.

  1. Na postura nas redes sociais

As redes sociais hoje fazem parte da rotina da grande parte da população, que, a todo momento, interage com as postagens. Em redes onde as interações são mais diretas e textuais, como no Twitter, as pessoas sempre estão diante de oportunidades de participarem — ou não — de discussões ou de ataques a determinada personalidade.

Há pessoas que atuam nas redes sociais apenas como observadoras. Outras, permanecem na condição de “hater” — que significa “quem odeia sistematicamente”, numa tradução livre do inglês —, direcionando ataques sistemáticos a celebridades ou mesmo a anônimos, como numa forma de tortura. Há também aquelas que ficam no meio termo.

Entretanto, como nas redes sociais as pessoas não precisam se investir necessariamente da condição explícita do hater, as que vivem o tal meio termo, também podem causar danos. Se unindo a centenas ou até a milhares de outros pequenos haters intermediários, ainda que na consciência possa haver algum alívio quanto à condição da responsabilidade direta, o ataque acontece.

Portanto, é possível criar uma questão filosófica sobre isso, caso a pessoa pense que cada um dos haters continuará sendo responsável não só pela parcela de dor que ele causa individualmente, mas também pelo estímulo que cria da mesma ação em outros tantos torturadores. Mesmo que seja do meio termo, abrir mão dessa postura pode ser um passo importante nas redes sociais.

  1. Na hora de votar

Estamos nos aproximando das eleições, o que também nos aproxima de questões filosóficas fundamentais. Hancock destaca o pensamento do filósofo norte-americano John Rawls que, no livro Uma Teoria da Justiça, de 1971, pode nos colocar diante de dois princípios para a escolha das pessoas que queremos eleger:

Segundo Hawls, o primeiro princípio fala das liberdades básicas e iguais para todos os cidadãos, como a liberdade de expressão e de religião, enquanto o segundo se refere à igualdade social e econômica. Hawls observa ainda que, para saber se uma sociedade é justa, não precisamos olhar para a riqueza total ou para como ela é distribuída, bastando examinar a situação daqueles que estão em pior situação.

Por outro lado, existem outras possibilidades filosóficas, que podem nos levar a outros princípios. Analisando os vários argumentos filosóficos que podemos levantar, teremos mais condições de observar as propostas que serão apresentadas pelos candidatos nas próximas eleições, o que nos levará a escolhas mais conscientes.

  1. Diante da morte

É possível pensar na morte como uma forma de abrandar a ansiedade ou o medo que surge diante de sua perspectiva. Como filosoficamente observa o dito popular “a morte é a única certeza que temos na vida”. Porém, antes de essa certeza se cumprir, temos a própria vida.

Aprofundando a questão, para Arthur Schopenhauer, o fato de nossas vidas estarem cercadas por nada — do antes de nascermos e do depois de morrermos — nos leva a sentir uma ansiedade metafísica ou “uma angústia existencial que nos assalta quando tentamos contemplar o abismo eterno do Nada”, como, em 1999, disse o filósofo Simon Blackburn em Pense: Uma Introdução à Filosofia.

Já o filósofo romano Lucrécio, em Da Natureza das Coisas, pensa na eternidade até nosso nascimento como um espelho do que vai acontecer após a nossa morte. Epícuro, por sua vez, pensa na irracionalidade do medo da morte, uma vez que, para ele, após morrermos, deixaremos de existir.

Porém, há a perspectiva da imortalidade, que, segundo o britânico Bernard Williams, seria entediante e tiraria o sentido de nossas vidas. Com ela, sempre haveria tempo para fazer tudo e, consequentemente, não teríamos urgência em fazer nada.

De fato, talvez não consigamos nos livrar de todo do medo da morte, mas, pelo menos, podemos aproveitar nossas vidas, fazendo isso com mais clareza. Uma clareza que a filosofia, muitas vezes, nos ajuda a alcançar, o que justifica o dito de Marina Garcés, que merece ser repetido: “a filosofia não é útil ou inútil. É necessária”.

 


 

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