Aos 80 anos, Escola Guignard é um patrimônio da nossa região
Com 80 anos completados em 29 de fevereiro, a Escola Guignard tem uma história repleta de signos e de significados, tanto para universo das artes quanto para a cultura geral de Belo Horizonte e do Brasil. A começar por suas origens, em 1944, quando, atendendo ao convite do então prefeito Juscelino Kubitschek, o pintor e professor Alberto da Veiga Guignard assumiu a direção do Instituto de Belas Artes da capital. Com sólida for- mação artística na Europa e carreira consagrada, Guignard, que era natural da montanhosa Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, se mudou para BH, a fim de comandar a instituição que, em 1974, receberia o seu nome. Logo, adotou como sua a cidade que é capital do estado das montanhas, onde viveu até morrer, em 1962, aos 66 anos.
Tão presentes na vida e na obra do pintor, as montanhas acabariam também assumindo papel especial no legado de formação artística que ele deixou. Afinal, após décadas instalada em um espaço no complexo do Palácio das Artes, em 1994, já incorporada à Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), a Escola Guignard foi transferida para o edifício que ocupa atualmente, aos pés da Serra do Curral, na Rua Ascânio Burlamarque, no Comiteco.
Por si, a construção é uma obra de arte. Reconhecida internacionalmente como um dos principais projetos da arquitetura contemporânea brasileira, o edifício em aço assinado pelo arquiteto Gustavo Penna se conecta diretamente com a montanha que o emoldura. Em meio a tantos símbolos, é ali que são desenvolvidas atividades de formação artística que estão entre as mais importantes do país.
Contudo, mesmo estando fisicamente tão próxima, nem sempre a comunidade do entorno compreende de maneira apropriada os valores que aquela instituição abriga.
Atrativos
De acordo com Lorena D’árc, diretora da Guignard, o contato da vizinhança com a Escola é bastante saudável. “Há a integração da Escola Guignard com seus arredores. Pela manhã, temos trânsito de mamães com crianças e pets, além de alguns esportistas. No final da tarde, o espaço do gramado recebe grupos de vizinhos”, ela conta.
Entretanto, o convívio da população local com a instituição poderia ser ainda maior, considerando os outros atrativos que existem por lá. “Temos uma lojinha de materiais artísticos e papelaria, uma biblioteca com livros de artes maravilhosos e atendimento super especial. Nossa cantina recebe gente que vem de longe tomar um refrigerante, comer um pão de queijo e apreciar o lindo pôr do sol que pode ser visto da nossa área externa. Temos ainda uma bela Galeria de Arte, que funciona ativamente, com exposições diversas”, diz Lorena.
Além de oferecer cursos de graduação e de pós-graduação direcionados para quem busca formação artística consistente (veja no quadro abaixo), a Escola ainda mantém cursos livres, abertos à comunidade em geral e que não exigem nenhum conhecimento anterior do mundo das artes plásticas. “São cursos de aquarela, pintura, desenho, cerâmica, gravura e encadernação, com uma variedade em cada semestre. Atendem a todos os tipos de público, dos mais jovens aos de maior idade”, explica a diretora.
Lorena destaca ainda que a Guignard está pronta para receber a população em outras atividades que acontecem fora e dentro do âmbito de ensino — como em palestras, cursos, workshops, projeções a céu aberto e nas festas juninas. Mais do que isso, a Escola tem grande potencial para levar a arte também para fora do espaço de ensino.
Aproximação
As tantas atrações que a Guignard tem a oferecer são ótimas opções para quem busca por momentos de descontração perto de casa e esta condição pode ainda proporcionar maior proximidade do público em geral com as artes plásticas, o que seria bastante oportuno. Afinal, Lorena observa que, infelizmente, no Brasil, essa modalidade artística não atrai tanto a atenção das pessoas como ocorre com a música, por exemplo. “A arte e a cultura são riquezas que, lamentavelmente, não têm sido prioridade nesse país, fazendo de nós um povo cada vez mais distante de sua memória, de sua identidade cultural, o que nos fragiliza enquanto pensamento e reflexão. Por outro lado, no caso da Escola Guignard, ao mesmo tempo em que vejo um distanciamento estrutural, vejo que também não há distanciamento. Quando as pessoas conhecem a Escola elas se encantam e retornam”, diz.
Valorizando esta qualidade que a instituição tem para encantar as pessoas, Lorena entende que a Guignard pode se tornar uma propagadora das artes plásticas, com presença, inclusive, nos espaços públicos. Nesse sentido, ela cita como exemplo o que ocorre na cidade de São Paulo, onde acontecem circuitos culturais em parques, em praças e em outros locais. “Poderíamos acolher circuitos culturais na região como forma de agregar públicos diferentes e fazermos o nosso papel de divulgadores da arte, não somente apresentando uma produção artística, mas, também, como agentes multiplicadores ou provocadores. Neste caso, vejo que a Amoran pode ser um canal importante para catalisar essa aproximação dos moradores da região com a Escola Guignard.”, considera.
Parceria
Para Carlos Alberto Rocha, a possibilidade de a Amoran atuar como um elo entre a comunidade da região e a Escola Guignard está totalmente de acordo com missão da Associação de também servir como meio para que ações culturais possam ser desenvolvidas localmente. “Estamos em um lugar bastante privilegiado em vários aspectos, que tem totais condições para receber e para fazer fluir eventos variados de promoção das artes plásticas. Esta possibilidade nos deixa bastante animados com as muitas ações que podemos promover em parceria com a Guignard. Já começamos a esboçar ideias nesse sentido”, anuncia.
Carlos Alberto diz que a intenção no momento é de levar as artes plásticas pra espaços não convencionais. “Com isso, acreditamos que será possível alcançar um público amplo, de pessoas que gostam do fazer artístico, que valorizam os artistas, mas que não estão habituados à frequentação artística nos museus e galerias. Faremos de tudo para que, em breve, possamos anunciar alguns eventos”, conclui.